Olá querida Mãe Solteira!
Bem vinda (de volta).
Eu acabei deixando passar em branco um dia tão obscuro para nós, mães solteiras, que não tem o pai dos filhos ao lado.
O dia dos pais.
Freud diria que foi um esquecimento proposital, mas não vamos entrar muito profundamente no mérito da questão.
Os conteúdos inconscientes têm sua hora para vir à tona.
O que quero dividir com você hoje é a capacidade que uma criança tem de trazer á baila o que lhe incomoda de uma maneira muito peculiar.
Explico:
Felipe, hoje, quando cheguei da faculdade veio com uma conversinha assim:
“- Quem é mãe nessa casa?”
Bem, na casa em que ele vive existem duas: eu e a vódrasta dele.
“- E quantos papais têm nessa casa?”
Bem, papai tem um só, que é meu pai e avô dele.
Aonde ele quer chegar – me indaguei – e logo veio o objetivo final da primeira pergunta.
- Eu não tenho papai – disse ele.
- Mas tem vovô – disse meu namorado (que participava do papo).
Eu, inexperiente nessa matéria de filho sem pai, conquanto ele já tenha quatro anos, acabei perguntando:
- Você queria ter papai?
“- Eu fico muito triste porque não tenho papai, porque quando minha mamãe sai de casa, se eu tivesse papai, ele me dava mamadeira e cuidava de mim.”
O que pude concluir disso:
Ele está passando fome enquanto estou fora e logo, logo vou ser denunciada ao conselho tutelar por negligência.
Brincadeira!
É minha filha, não adianta querer fugir da realidade!
Por mais que esse papo de que é quase igual ter uma figura masculina que represente a figura paterna, o nome “pai” tem um significado que, para nós que temos um, condiz com a realidade.
Para nossos filhos marcados por essa falta tudo está lá na fantasia e no que essa figura poderia fazer – ou não – se existisse em suas vidinhas.
Ou você acha que o produtor do espermatozóide faria mamadeira e cuidaria dele? Eu não tenho a menor dúvida que não!
Meu namorado, muito fofo (por isso estamos planejando um futuro) disse que Lipe o tem para fazer a mamadeira e para cuidar dele quando eu não estiver em casa.
Ok, ele foi muito fofo mesmo - mas para Lipe essa briga com a fantasia talvez sempre vá existir.
Sempre digo que para a fantasia não tem adversários, porque tudo é possível e tudo é perfeito, por isso a realidade é muitas vezes decepcionante.
A realidade falha perante nossas expectativas.
A questão que, agora, me fica é a seguinte:
- Até quando essa briga com a fantasia, na cabecinha do meu rebento, será a história perfeita que ele tem criado? Existirá o momento de se decepcionar para poder seguir em frente sua vidinha que promete muito?
Eu, que amo demais meu filho, desejo que ele não passe a vida preso a uma fantasia que nunca seria como é na imaginação dele.
Então penso na minha angústia e me cuuuulpo demais, como você deve imaginar, por não ter dado um pai decente para meu filho, mas paro e penso o seguinte:
Pai ele já não tem mesmo. O que me cabe, então?
Ajudá-lo a resolver esse conflito da melhor maneira e da forma que for aparecendo para ele e para mim.
O que é possível hoje?
Dizer que ele tem um pai biológico e que tem um “pai” que é o avô que cuida dele, supre suas necessidades, dá muito amor, carinho e cuidado.
E como eu disse:
- Você tem uma mamãe que é um papai também, porque dou carinho, mas sei brigar com você. E fiz de conta que brigava com ele porque estava descalço.
Ele gostou da brincadeira e riu e se deu por satisfeito – por ora.
Logo virão outras perguntas e espero não ter todas as respostas, para que nós dois possamos construir juntos a nossa história!
É isso aí, não adianta querer prever porque quando menos esperamos, eles nos pegam de surpresa.
Se eu tenho um conselho, uma dica, uma sugestão?
Se a verdade for complicada demais para a idade do seu filho, simplifique, mas sempre conte a verdade.
Beijos e até a próxima.
Bons ventos para nós!