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16 de fev. de 2011

A primeira escola a gente nunca esquece.


Contei outro dia que fiz a matrícula do Lipe no pomposo Jardim I.

Pois bem, as aulas tiveram início há alguns dias.

Se seu filho/filha já foi para a escola você conhece essa história.

Se ainda não, espere: chegará sua vez!

Todas as tardes, exatamente às 17h, eu busco meu pimpolho na sala, recebo um abraço apertado junto ao pulo, para que o pegue no colo.

E devo dizer que não está sendo tão fácil quanto antes pega-lo no colo. Como criança cresce! E pesa!!

Enfim, adentrei este mundo novo que é buscar filho na escola!

Reunião de mães na porta, todas tranqüilas e serenas, chegando com vinte minutos de antecedência, numa esperança tola de que a diretora abra logo os portões e o reencontro com os filhos seja antecipado.

A diretora sádica só gira a chave às 17 horas em ponto, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.

Outro dia parei para observá-la.


É o momento de poder total e ela age como se fosse a dona das chaves do céu (ou do inferno, se você acha que o céu é monótono), decidindo os destinos das almas das pobres mães que estão ali, à sua revelia.

Ela pára no portão simulando uma conversa franca com as coitadas enquanto gira nos dedos o molho de chaves.

Os olhos conferem os segundos no relógio do pulso e, quando o sinal bate, simultaneamente, ela enfia a chave na fechadura e gira, o coração acelerado, a adrenalina jorrando em seu sangue.

Sim, ela adora esse momento de poder... 

Mas voltando ao mundo novo “buscar filho/filha na escola”, virou rotina o inquérito pós-aula:

- Alguém te bateu? Alguém gritou com você? Alguém tocou em você? Alguém olhou torto para você? Te obrigaram a comer algo que você não queria? As músicas não tinham duplo sentido? A merendeira lavou as mãos antes de servir a comida? Você subiu na mesa e caiu de cabeça no chão? Como assim? E sua professora não fez nada? Cadê o telefone da polícia? Vou denunciar essa escola, essa professora irresponsável que não consegue cuidar de 35 crianças como se fossem seus filhos, amando e estando atenta a cada movimento mais brusco que possa resultar em queda. E essa diretora sádica, ela vai ver onde vai enfiar a chave da próxima vez...

Desculpa, fugi do assunto de novo.

Sabe como é, acabo deixando-me levar por esses pequenos incidentes tão previsíveis.

No inquérito Lipe me disse que aprendeu uma brincadeira e que é “super legal”:

- Nós brincamos de silêncio.

- (...) – calma, calma, muita calma.

- Mamãe, nós brincamos de silêncio.

- (mantenha a calma) Como é essa brincadeira meu filho? Ensina a mamãe? Também quero brincar!

- Tá bom! (todo entusiasmado, pois enfim chegou o dia em que ele é quem vai ensinar algo). Você tem que ficar sentada e não pode falar.

- Assim, filinho?

- Não pode falar! – grita Lipe.

- (não falo, sussurro) E agora?

- Agora você não pode mexer.

Ajeito-me no sofá e Lipe grita:

- Eu falei que não pode se mexer. Você quer perder?

- Mas filho, eu não posso mexer nada?

- Não, nem as mãos, nem os pés, nem falar. Quem ficar mais em silencio vai ganhar.

- Mas essa brincadeira é muito chata, Lipe.

- A Tia que ensinou e falou que é legal e que todo mundo que ficar quieto sem se mexer ganha e todo mundo quer ganhar e ninguém se mexe nem fala.

- Vocês brincam sempre disso?

- Aham.

Ok, quem sabe para qual órgão a denúncia deve ser encaminhada?


Ah, e o porteiro não apareceu mais.

Vou ter que ampliar meu perímetro de caça...


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